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31 de Maio de 2018

[Entrevista] Rubens Ewald Filho: “O cinema ensina a gente a sobreviver”

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Por Juliska Azevedo

O jornalista e maior crítico do cinema brasileiro, Rubens Ewald Filho, acumula mais de 35 transmissões como comentarista do Oscar e já conta mais de 40 mil filmes anotados em sua caderneta de crítico, reconhecida com passagens nos principais veículos de comunicação do país. Rubens fala sobre cinema com emoção e paixão contagiantes. Nos conhecemos na festa temática que encerrava o Cine Fest RN e comemorava o aniversário do jornalista Toinho Silveira. Em 30 minutos de conversa, ele falou sobre o momento atual da comunicação, deu dicas de filmes e comentou suas impressões sobre Natal. Confira:

Então deixa eu te perguntar: às vezes, as pessoas têm uma impressão de que crítico de Cinema é meio chato, aquela pessoa mais reclusa, ou que está sempre colocando um dedo crítico em tudo, é verdade essa impressão?

Talvez, no genérico, é. Há críticos e críticos em tudo, e eu acho que consegui fazer uma imagem, onde tenho mais de 40 anos de carreira, 35 programas do Oscar que eu fiz a transmissão. Eu também sou um admirador, um fã, e eu tento passar para as pessoas isso. A mensagem que tem ali quando é positiva e quando é negativa, eu falo: “cuidado, isto aqui é um problema, não vá seguir por aqui”. Eu estaria mentindo para mim mesmo seu eu não sentisse hoje a paixão que eu tinha quando eu era garoto. Eu teria largado a carreira, já teria feito outra coisa. Eu tento transmitir o que o meu coração dizia para o que o meu coração sente hoje.

Em tantos anos de transmissão do Oscar, teve alguma transmissão que você não esquece por algum fato improvável?

Teve, há dois anos, entrega do prêmio de melhor filme ao vencedor errado. Em qualquer lugar do mundo, você tem uma empresa e alguém faz algo errado, você manda embora. Mas continua a mesma empresa fazendo este ano... bem, eu gostei muito do filme que ganhou nesse último ano, porque ele é uma fantasia (“A forma da água”). Se há algo no mundo que a gente está precisando é um pouco de coisas positivas, porque o mundo está descontrolado.

Quantos filmes você já viu na vida?

Desde criança, eu anoto tudo. Estou com 40 mil filmes vistos.

E você consegue destacar três ou quatro obras que tenha como suas preferidas?

Sim. Eu adoro cinema italiano e o diretor Frederico Fellini e ele fez uma obra biográfica chamada Fellini 8 e meio. Que é o oitavo filme que ele fez, mais um que ele co-dirigiu.

É um dos seus filmes preferidos?

Ele é, pois devasta os bastidores do cinema. Eu escrevi novela também e tenho presença no meio literário. Há um momento em que o personagem fala “não tenho nada a dizer mais!” e o cara que escreve tem esse momento de dizer “Ah, meu Deus, não tenho o que dizer mais!” e mesmo como crítico você fala: “tô perdido!” e o filme tem isso um pouco. Acho que o italiano é muito próximo de nós, tem um comportamento muito semelhante ao brasileiro. Eu tenho também uma paixão desde cedo pelos musicais e acompanhei muitos. Um deles é o “West Side Story”, que é uma de história sobre latinos contra brancos do lado oeste de Nova York e tem a maior coreografia que você possa imaginar. Tem um outro filme que gosto muito que é o “Cantando na Chuva”, porque ele é pura alegria!

“La La Land” conseguiu trazer esse segmento dos musicais de volta ao topo?

Acho que ele tentou, mas ficou no meio termo. Acho que faltou alguma coisa. No “Cantando na Chuva” existe algo mais maravilhoso, encantador, que faz você cantar e dançar na chuva, como o Gene Kelly.

E o Cinema Brasileiro, como você avalia atualmente?

Olha, eu assisti no festival Cine Fest RN um filme chamado “Açúcar”. É um filme de Recife (PE), que eles levaram três anos pra fazer por problemas de orçamento. Mas é de uma beleza, é de uma emoção, de uma delicadeza, uma obra de arte! Fiquei muito emocionado. É diferente de tudo: é mais de arte, não é um filme comercial, mas eu fiquei tão contente de ver que tem pessoas que ainda tem pessoas que possuem essa paixão pelo cinema e que, mesmo com pouco orçamento, conseguem ter resultado notável.

O Jornalismo, de maneira geral, está meio “atordoado” com as mudanças rápidas que estão acontecendo no mundo e as novas formas de se fazer comunicação. Isso também tem afetado o cinema?

Você quer saber? Principalmente o Cinema. O Spielberg lanço um filme, “Jogador Nº 1”, que é uma declaração dele sobre videogame e tudo aquilo que o representa nessa evolução esquisita que a gente está começando a viver muito.

Você se sente confortável nesse mundo 100% interativo?

Na internet, me dou muito bem. Já com celular não. Sou uma pessoa de escrever. O whatsapp tem uma utilidade para você falar, principalmente em relação a velocidade, e eu não consigo me envolver com ele.

Como é sua relação com o Netflix e serviços de streaming?

Eu curto e acompanho. Em Gramado, eu sou curador do festival de cinema e pedi participação do Netflix nesse festival. O futuro vem e a gente tem que seguir, tem que acompanhar. Retirar as coisas ruins dele e não resistir ao positivo. A Netflix tem 100 milhões de assinantes e as pessoas deixaram um pouco de ir ao cinema, que é muito caro para o brasileiro.

Então vamos aproveitar o nosso encontro para eu lhe pedir, para os leitores do www.blogdajuliska.com.br, suas dicas de filmes:

Vamos lá.

Um Drama?

“A Malvada”, que é um dos filmes mais inteligentes e bem escritos sobre o teatro e sobre o comportamento do ator e da atriz. Eu também escrevo teatro e a Bette Davis interpreta nesse filme, e ela é um símbolo muito grande do cinema.

Uma Aventura?

“2001: Uma Odisseia no Espaço”, que está fazendo 50 anos neste ano. Eu acho absolutamente fantástico pois o filme tem 25 minutos de diálogo, e o restante não tem mais, segue sem. É um filme que foi feito antes do homem chegar à Lua! E que transforma uma simples ficção em uma viagem religiosa.

 

Um filme Romântico?

“Bonequinha de Luxo”. Pela atuação da Audrey Hepburn. Como ela, não teve outra igual. Eu fui ao Japão e até hoje ela é, até lá, um ícone da moda. Ela é um exemplo de elegância até hoje.

Um filme de Guerra?

“O Resgate do Soldado Ryan”. Aquela sequência da chegada dos soldados na praia é uma versão muito fiel ao fato. No cinema, essa cena é o momento mais forte.

Você gosta de Blockbuster?

Eu gosto, não tenho nenhum preconceito. Tenho preconceito contra filme ruim, porque você pode ter um Blockbuster horrível, como tem alguns, com efeitos especiais pavorosos. O gênero em si não pode ser culpabilizado por isso, não é? Eu gosto de filme de super-herói. Eu vou confessar uma coisa: a minha família era muito restrita, não me deixava ler de tudo e naquela época história em quadrinhos era uma coisa perseguida, porque educava mal. Eu gostava dos personagens da Marvel da época, que tinham uma imitação de Superman ali. O que mais me tocou foi o “Superman” e a atuação do Christopher Reeve.

Rubens, o que é o cinema para você?

O cinema ensina a gente a sobreviver. A vida já é muito dura, se a agente não tem essas armas como o cinema, acho que é duro viver.

Vamos falar sobre sua passagem recente por Natal. Você veio para participar do Cine Fest RN. Qual a importância desses festivais regionalizados, estaduais, para o cinema no Brasil?

Deixa eu confessar primeiro por que que eu vim. É a terceira vez e as duas outras, já fazem algum tempo, foram em festivais aqui na cidade (Natal) e eu fiquei muito impressionado com a beleza, é uma coisa excepcional. Eu sou de Santos, então praia não é um problema pra mim, não é uma novidade, mas aqui tem uma alguma coisa meia mágica no ar, sabe? Eu tava comentando com um amigo agora e eu acho que houve uma evolução dos costumes, do comportamento, nos habitantes da cidade, que é muito importante. Me parece que houve esse amadurecimento, no melhor sentido da palavra.

O que você já conheceu em Natal?

Bastante coisa. Eu fui às praias, inclusive…

Você conhece algo da história de Natal, como a passagem aqui dos americanos durante a Segunda Guerra Mundial?

Sim, claro, acompanhei muito isso. É, um dos hábitos que eu tenho é ler muito, toda literatura, mas também sobre cinema. E teve livros a respeito, teve um filme (“For All”)... Que era pouquinho falho, assim, desrespeitoso, talvez. Não faz jus ao que foi, porque foi uma situação muito particular, muito especial eu acho. Na verdade, temos aí um outro filme a fazer, sabe?

 

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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